Trem entre Salto e Itu terá parceria entre iniciativa privada e associação ferroviária
A bordo de um carro de passageiros que faz a rota ferroviária entre Curitiba e Morretes, na serra do mar paranaense, dirigentes da Serra Verde Express e da ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária) assinaram um contrato de parceria para a operação do Trem Republicano, no interior de São Paulo.
Quinze anos após o início do projeto do trem entre Salto e Itu, a previsão é que o sistema entre em operação a partir de dezembro. Praticamente todos os trens turísticos e culturais do país retomaram as atividades, depois de cinco meses meses paralisados devido à pandemia do novo coronavírus.
O contrato prevê que a ABPF fará a operação do trem turístico entre as duas cidades paulistas, concorrência que foi vencida pela Serra Verde e cujo contrato foi assinado em agosto.
Uma locomotiva diesel será cedida pela associação e o trem inicialmente será composto por três carros de passageiros –sendo um carro boutique, um turístico e um econômico, que transportarão até 136 passageiros por viagem.
Por meio do acordo, a Serra Verde auxiliará a associação na formatação de pacotes turísticos para circuitos ferroviários, além de dar suporte na comercialização. Além disso, os sócios da ABPF terão desconto de 50% nos passeios de trem operados pela Serra Verde.
“A região tem um grande potencial turístico, está muito próxima do aeroporto de Viracopos e tem tudo para ser um sucesso”, disse Adonai Aires de Arruda, presidente da empresa paranaense, sobre a operação do Trem Republicano. Caberá a ela, conforme o contrato assinado com o consórcio responsável pelo trem, a conservação, manutenção, vigilância, limpeza, fiscalização, jardinagem e controle de passageiros.
“Vai ser muito importante essa parceria pela troca de conhecimentos que haverá e por termos mais um trem em operação no país”, disse Bruno Crivelari Sanches, presidente da ABPF.
Segundo ele, a associação não tinha interesse em disputar a concorrência, mas a participação no processo da forma como ocorrerá será benéfica para ambos.
A rota entre os dois municípios tem 7,6 quilômetros em cada trecho, percorrido em 45 minutos de viagem.
A ideia do Trem Republicano surgiu em 2005, a partir de um seminário ocorrido no Rio de Janeiro, e dois anos depois foi conquistada a primeira vitória, quando a rodovia Engenheiro Herculano Godoy Passos foi construída deixando uma passagem sob ela para o trem.
Um consórcio foi criado em 2008, quando as prefeituras conseguiram verba de R$ 4 milhões do Ministério do Turismo para a sua execução. Em 2010, o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) concedeu os trilhos para a execução de sete quilômetros de ferrovia, ligando as duas estações ferroviárias.
Uma empresa chegou a construir dois quilômetros entre as duas cidades, mas as obras pararam em 2012 devido ao atraso no repasse da verba federal e a contratada desistiu do projeto.
Já em 2014, uma nova licitação foi feita para contratar outra empresa e, no mesmo ano, começaram as reformas das duas estações ferroviárias.
Uma nova paralisação ocorreu em 2016, com a falta de novos repasses financeiros, e a construção foi retomada em 2018. Agora, se não houver nenhum percalço, a temporada de verão será marcada nas duas cidades turísticas pela nova operação ferroviária, que se soma às já existentes no interior, como o Trem de Guararema e a maria-fumaça Campinas-Jaguariúna.
A solução encontrada para o Trem Republicano encerra definitivamente também um imbróglio que se arrastava há anos envolvendo a operação do trem no interior: a falta de locomotiva. Em 2017, o consórcio obteve autorização para retirar de Ribeirão Preto uma maria-fumaça que estava abandonada havia décadas na avenida Mogiana.
Quando uma carreta, com ajuda de guindastes, estacionou para levar a locomotiva embora em dezembro daquele ano, houve mobilização em imediata em Ribeirão e até a PF (Polícia Federal) foi acionada para impedir que a carreta partisse com o trem.
O caminhão foi embora sem ele, mas a maria-fumaça segue exposta ao lado da estação ferroviária da cidade completamente abandonada e com marcas de vandalismo. A autorização para levar a locomotiva para Salto tinha sido dada pelo Dnit, por meio de um termo de transferência.
Outra locomotiva que estava exposta em Ribeirão Preto está sendo revitalizada nas oficinas da ABPF em Campinas, após licitação feita pela administração.