Após resgate histórico, locomotivas terão plano de restauro; veja como foi a viagem
Última quarta-feira (16). Depois de uma jornada iniciada entre a noite de sábado (12) e a madrugada do dia seguinte no pátio da Luz, na capital, uma composição levando três antigas locomotivas chegou a Cruzeiro (a 219 km de São Paulo), onde serão preservadas.
A epopeia é vista por integrantes de movimentos de preservação como um dos maiores feitos já registrados no setor no país, por salvar de uma só vez três locomotivas e por elas terem sido transferidas para o local em que serão restauradas pelos próprios trilhos.
As máquinas, fabricadas entre as décadas de 40 e 50, estavam abrigadas no depósito da Luz desde 2008. Duas delas foram produzidas pela General Electric e utilizadas inicialmente pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro, uma das ferrovias que originaram a Fepasa (Ferrovia Paulista S.A.), em 1971. Elas ficaram nos trilhos até 1998.
A outra é uma máquina inglesa, que permaneceu nos trilhos até 1996, fabricada pela English Electric e que foi usada inicialmente pela antiga EFSJ (Estrada de Ferro Santos-Jundiaí).
A viagem teve início pouco depois da 0h de domingo (13), quando as locomotivas partiram, rebocadas, do pátio da Luz. A passagem pela icônica estação paulistana foi registrada por membros de associações de preservação em lives e fotos. Foi uma etapa curta, a menor delas, até o pátio de Manoel Feio, em Itaquaquecetuba.
O trabalho foi retomado na segunda-feira (14), às 8h, quando deixaram o pátio para seguir até São José dos Campos. Na terça (15), foi a vez de viajar, no mesmo horário, da maior cidade do Vale do Paraíba até Roseira, no maior trecho da viagem (73 quilômetros).
A última etapa foi registrada no dia seguinte, entre Roseira e Cruzeiro, onde elas permanecerão para restauro.
E o que vai acontecer com essas locomotivas a partir de agora? Sob responsabilidade da ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária), elas serão alvo de um projeto de restauro, que será enviado aos órgãos patrimoniais para ser aprovado e, em seguida, executado, segundo Bruno Crivelari Sanches, presidente da associação.
“Vai ser uma reforma estética, pois o custo e as limitações para colocá-las em operação são inviáveis”, afirmou.
A ABPF está restaurando uma locomotiva a vapor após vencer licitação aberta em Ribeirão Preto pela prefeitura. O custo é de R$ 749 mil.
Segundo Sanches, só da ABPF estiveram envolvidas na operação cerca de 20 pessoas diretamente, além de equipes da concessionária MRS, da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).
A viagem foi marcada por baixa velocidade da composição –no máximo 30 quilômetros por hora– e paradas para inspeção em todos os pátios. Para voltarem aos trilhos após mais de uma década estacionadas, elas passaram por revisão e lubrificação.
As locomotivas ficarão sob responsabilidade da regional Sul de Minas da ABPF, que opera os trens da Serra da Mantiqueira (Passa Quatro-MG), das Águas (São Lourenço-Soledade de Minas) e de Guararema (Guararema-distrito de Luís Carlos), que retomaram as atividades depois de cinco meses de paralisação devido à pandemia do novo coronavírus.
Além das três locomotivas já transferidas, outras três nas mesmas condições serão levadas posteriormente à ABPF e ao IMF (Instituto de Memória Ferroviária), com sede em Rio Claro, também no interior paulista.
Uma delas será levada para a unidade da ABPF na própria capital, para preservação no pátio da Mooca, e outras duas serão rebocadas para Rio Claro.
Em Cruzeiro, os trens farão parte de um acervo com 10 locomotivas elétricas e 8 a vapor, além de 14 carros de passageiros. Do total, duas pequenas locomotivas usadas para serviços de manobra e no pátio estão operacionais. Há uma outra passando por restauro.