Há 50 anos, batida entre trens em Perus matou 21 pessoas e deixou 300 feridos

Não foi o pior acidente ferroviário já registrado no Brasil, mas uma batida de frente entre dois trens em 1969 –há 50 anos, portanto– marcou a história das tragédias envolvendo trens no país pela forma como aconteceu.

Em 21 de março daquele ano, dois trens se chocaram no trecho da antiga EFSJ (Estrada de Ferro Santos-Jundiaí), a antiga São Paulo Railway, entre as estações Perus e Caieiras, provocando as mortes de ao menos 21 pessoas e deixando outras 300 feridas.

O acidente aconteceu minutos após uma composição elétrica partir da estação Caieiras com seis vagões lotados de passageiros. Pouco mais de três quilômetros depois da saída, o trem bateu de frente com uma locomotiva diesel numa curva.

O impacto foi tão forte, conforme relato da Folha à época, que a locomotiva a diesel entrou no primeiro vagão do trem de passageiros “como um abridor de latas”. O segundo vagão tombou e os quatro de trás sofreram abalos.

Mas como isso ocorreu? A composição havia parado por uma falha elétrica e o maquinista pediu para ser rebocado por um trem a diesel até uma estação para que os consertos fossem efetuados.

Nesse intervalo, um técnico que tinha descido de outro trem fez os reparos e a composição elétrica partiu de Caieiras. Mas não houve comunicação sobre o reparo e a consequente partida do trem, que bateu de frente com o outro, a diesel, que tinha deixado Perus e se dirigia ao local justamente para socorrer o trem elétrico e fazer a manutenção necessária.

Um agravante é que o acidente ocorreu numa curva cercada de barrancos, o que impediu os ferroviários que conduziam os dois trens de visualizarem a outra composição. Ou seja, não tiveram tempo para frear.

Quando o comando soube que o trem tinha partido de Caieiras e que o outro ia na direção contrária, decidiu desligar a rede elétrica, para ao menos reduzir a velocidade e, consequentemente, os danos da batida. Mas era tarde: ao chegar ao local do desligamento, técnicos viram que a rede já estava desligada devido ao acidente.

Os trens de subúrbio da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí transportavam no fim daquela década 200 mil pessoas em 133 composições. Elas pagavam NCr$ 0,35 (35 centavos de cruzeiros novos, moeda que circulava no país à época), o que seria equivalente hoje a menos de R$ 1.

O alto fluxo de passageiros que optavam pelo trem em vez de ônibus –caso de moradores da Lapa, Água Branca e Barra Funda, por exemplo– fez com que a companhia ferroviária fosse superavitária, o que era raro no país.

O acidente de 1969 não foi o único na história da ferrovia. Um ano antes, 7 pessoas morreram e outras 70 ficaram feridas após batida entre dois trens.

A lista de acidentes em ferrovias brasileiras, aliás, é extensa, especialmente no período em que as composições de passageiros ainda existiam. Abaixo, alguns dos mais graves:

Outubro de 1958
14 mortos e dezenas de feridos (próximo à estação da Lapa)

Março de 1959
50 mortos e mais de cem feridos (estação Engenheiro Goulart)

Março de 1968
16 mortos e 35 feridos (trem da Central do Brasil bate em um ônibus no Tatuapé)

Janeiro de 1968
Sete mortos e 70 feridos (batida de um trem de carga com trem de passageiros num túnel na serra do Mar)

Março de 1969
21 mortos e 300 feridos (entre Perus e Caieiras)

Junho de 1972
24 mortos e 66 feridos (um trem foi atingido por outra composição que ia no mesmo sentido)

Fevereiro de 1987
O pior em número de mortos: 58, com 140 feridos (dois trens da CBTU colidem a 300 m da estação de Itaquera)

Abril de 1987
231 feridos (colisão entre dois trens de subúrbio da CBTU, a 2 km da estação Perus)