Incêndio em estação completa um ano e associação busca recursos para restauro

A noite de 30 de setembro de 2020 não será esquecida tão cedo pelos adeptos da preservação ferroviária. Naquela data, com as operações paradas devido à pandemia da Covid-19, um incêndio explodiu dois veículos, atingiu a plataforma da estação ferroviária Carlos Gomes, em Campinas, e danificou uma locomotiva histórica.

O fogo poderia ter causado consequências ainda piores, já que a estação abriga a oficina de restauro de trens da ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária), que possui locomotivas e carros de passageiros centenários à espera de recuperação.

Assim como na crise hídrica deste ano, que deixou a vegetação ressecada e com mais facilidade de causar incêndios de grandes proporções, a estiagem do ano passado propiciou que o fogo num pasto na vizinhança provocasse o incêndio.

Um coqueiro que foi derrubado pelas chamas atingiu uma retroescavadeira usada pela associação e, dela, o fogo se alastrou e atingiu a plataforma, que até hoje não foi recuperada por falta de recursos financeiros.

A associação enfrentou cerca de oito meses de atividades paralisadas, devido à pandemia, e viu sua arrecadação despencar. Com isso, priorizou manter funcionários, ainda que tenha ingressado em programas do governo, e pagar contas de manutenção das atividades da oficina, deixando a recuperação do prédio histórico para um momento posterior.

Diretor administrativo da ABPF, Hélio Gazetta Filho disse que a estimativa é que seja necessário investir entre R$ 200 mil e R$ 250 mil para a restauração, valor que a associação não tem.

No ano passado, uma campanha de arrecadação virtual foi lançada, mas ela amealhou apenas R$ 6.581. Ainda está aberta para doações, aqui.

“Depois daquele fatídico 30 de setembro, a estação está do mesmo jeito. O conselho de preservação aprovou e liberou para fazer a reforma, se quisermos. Fomos atrás de pessoas para ajudar, mas não conseguimos. Por conta da pandemia, muitos estão segurando [possíveis doações]”, disse.

O teto metálico da construção, cuja estrutura de sustentação era de madeira, caiu e o fogo atingiu portas e janelas da estação, além de dois carros de funcionários da ABPF, que explodiram, e parte da pintura da histórica maria-fumaça número 9, fabricada em 1912 na Alemanha e que voltou aos trilhos há cerca de 20 anos. Não houve feridos.

Agora, de acordo com o diretor, a associação deve esperar a chegada de 2022, que tem a perspectiva de ser melhor, com mais turistas viajando, para trabalhar na restauração.

“Temos um pedreiro que fez trabalhos em Tanquinho [outra estação do trecho entre Campinas e Jaguariúna], talvez dê certo de irmos fazendo reboque, janelas, o que for possível nessa fase de restauro”, afirmou.

Em setembro de 1985, a associação, criada oito anos antes, sofreu o que é, até aqui, o maior baque nas suas mais de quatro décadas de existência, quando um incêndio criminoso destruiu dez vagões usados no transporte de turistas entre Campinas e Jaguariúna. Eles estavam estacionados na mesma estação.

Maria-fumaça Campinas-Jaguariúna
Trecho: estação Anhumas à estação Jaguariúna, passando por outras três no trecho
Rota: 48 km (ida e volta)
Duração: 3h30 (completo, ida e volta) e 2h (meio percurso)
Preços: R$ 90 (meia-entrada ou ingresso solidário) no percurso completo e R$ 70 (meia ou ingresso solidário) no meio percurso
Atrações: demonstração da operação do trem, música e antigas fazendas