Restaurado após 11 anos, vagão que viraria sucata volta aos trilhos em SP

Depois de chegar a entrar na fila para ser desmanchado, um carro de passageiros que foi doado pela Vale à ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária) voltou aos trilhos neste domingo (4) no interior de São Paulo.

Ele não é um vagão antigo como outros já recuperados –foi produzido em 1965–, mas é emblemático para a entidade por ser o primeiro do acervo a ter pertencido à Estrada de Ferro Vitória-Minas.

Fabricado pela Companhia Industrial Santa Matilde em Três Rios (RJ), o carro de passageiros foi utilizado em toda a sua existência exclusivamente na ferrovia que liga Belo Horizonte a Cariacica (ES).

“Ele estava parado desde meados dos anos 2000 e logo que chegou para nós começamos a reformar, mas paramos por conta de outras demandas. Reiniciamos em 2020, mas veio a pandemia a paramos de novo. Conseguimos reiniciar mais uma vez, agora com apoio da Vale, que aprovou um projeto que apresentamos de restauração”, disse Hélio Gazetta Filho, diretor administrativo da ABPF, antes da viagem inaugural do carro.

Representando o antigo Trem Rio Doce, o carro de passageiros foi usado numa viagem com outros dois vagões, um que pertenceu à Estrada de Ferro Sorocabana e outro que foi usado no passado pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro.

Sim, a viagem deste domingo foi feita com somente três carros de passageiros. O movimento por conta da pandemia está muito abaixo da média, o que tem feito com que a ABPF lance campanhas oferecendo desconto de 50% nos bilhetes aos adultos que doarem um quilo de alimento não perecível para tentar atrair mais passageiros. Antes da pandemia, viagens com mais de uma dezena de vagões eram comuns.

O renascimento do carro ocorreu com a recuperação de detalhes históricos, como as maçanetas cromadas e o mapa das estações ferroviárias em que o trem fazia paradas no passado.

Após partir de Belo Horizonte, ele passava por locais como Barão de Cocais, João Monlevade, Pedra Corrida, Governador Valadares e Resplendor, entre outros.

Para que fosse possível voltar aos trilhos em Campinas, a ABPF contou com uma dose de sorte também. Em 2010, Gazetta Filho foi conhecer a oficina da Vale no Espírito Santo depois de ter embarcado em Belo Horizonte e percorrido o trecho de 664 km da Vitória-Minas.

No local, encontrou o carro agora reformado e outros dois, que estavam em péssimas condições. “Estavam podres mesmo, mas perguntaram se a gente tinha interesse. Dissemos que sim, fizemos a documentação e saíram os três carros de lá”, disse.

O carro que foi reinaugurado agora seguiu pelos trilhos até Paulínia e foi colocado numa carreta para chegar às oficinas da ABPF, na estação Carlos Gomes, em Campinas.

Já os outros dois carros foram levados pela Vale até a capital mineira, de onde seguiram para Lavras e completaram o percurso em caminhões.

O trem entre Espírito Santo e Minas Gerais percorre a rota diariamente, numa viagem que dura 13 horas e passa por margens do rio Doce, trechos de mata atlântica no Espírito Santo e montanhas em Minas.