Recebido como sucata, vagão renasce em oficina em Campinas e voltará aos trilhos
Ele, literalmente, iria virar sucata há 11 anos, quando estava na fila do desmanche e foi resgatado para ser recuperado numa oficina no interior de São Paulo.
Fabricado em 1965 pela Companhia Industrial Santa Matilde, em Três Rios (RJ), o vagão foi utilizado em sua existência exclusivamente na Estrada de Ferro Vitória-Minas. E foi por um acaso –dos muitos que permeiam o universo da preservação ferroviária– que ele foi resgatado.
Em 2010, o diretor administrativo da ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária), Hélio Gazetta Filho, foi conhecer a oficina da Vale no Espírito Santo, depois de ter embarcado em Belo Horizonte e percorrido o trecho de 664 km da Vitória-Minas.
“Chegando lá, havia uma fila de carros na sucata e vimos esse de passageiros e mais dois. Estavam podres mesmo, mas perguntaram se a gente tinha interesse. Dissemos que sim, fizemos a documentação e saíram os três carros de lá. Trazer foi outra luta”, disse.
Dois dos carros foram levados pela própria Vale até Belo Horizonte, de onde seguiram para Lavras. Na cidade, foram retirados de caminhão.
O terceiro, que é o que foi restaurado agora, seguiu da capital mineira pelos trilhos até Paulínia, passando antes por Divinópolis e Uberaba. Em Campinas, foi colocado numa carreta e levado para as oficinas da ABPF, na estação Carlos Gomes, em Campinas.
A recuperação foi complicada. A primeira etapa foi tirar as partes podres, como os bancos. Também quase não havia janelas, mas a solução para isso foi juntar as janelas dos três carros de passageiros para tentar fazer um –os outros dois carros serão reformados em outra oficina da ABPF, sem seguir as características originais.
Além das janelas, foram reaproveitados suportes de maleiros, porém ainda faltava muita coisa. O restauro foi acelerado em janeiro do ano passado, mas após as restrições impostas pela pandemia foram interrompidas. Foi quando surgiu novamente a ideia de procurar a Vale.
“Íamos pintar nas cores originais, do trem Rio Doce, e pensamos se poderia haver interesse da Vale. Deu certo, se interessaram e financiaram o que faltava para o restauro. Nós não tínhamos nenhum [carro da] Santa Matilde, nem da Vitória-Minas, e adoraram [a Vale] a ideia da representatividade do trem em nosso acervo”, afirmou.
O trem entre Espírito Santo e Minas Gerais percorre diariamente 664 km de trilhos, em viagem que dura 13 horas. No trajeto, percorre margens do rio Doce e passa por trechos de mata atlântica no Espírito Santo e montanhas em Minas. E para em 28 estações na rota.
É um dos dois únicos trens de passageiros regulares no Brasil. O outro é o da Estrada de Ferro Carajás –que percorre os trilhos entre São Luís e Parauapebas (PA).
Agora, o carro da ABPF que representa a ferrovia interestadual está praticamente pronto, faltando apenas alguns detalhes, que devem ser concluídos nas próximas semanas.
A data para o retorno aos trilhos não está definida, mas, se a associação quisesse, poderia ser hoje.