Trens deixam de transportar 100 mi de passageiros no Rio devido à Covid-19
Os trens que circulam no Rio de Janeiro e na região metropolitana deixaram de transportar mais de 100 milhões de passageiros desde o início das medidas restritivas tomadas para tentar evitar a disseminação da Covid-19, ainda em março do ano passado.
De acordo com dados da SuperVia, concessionária que administra o sistema desde 1998, o total de passageiros representa perdas registradas desde o dia 14 de março do ano passado. O acumulado até aqui chegou a 100.542.480.
Antes da pandemia, a média diária de passageiros nos trens era de 600 mil, número que hoje é de 300 mil em dias úteis. A concessionária administra 270 quilômetros do sistema ferroviário no Rio e em outras 11 cidades da região metropolitana.
O cenário, porém, já chegou a ser pior e alcançar 70% de redução, ainda no segundo semestre do ano passado. Resultado disso é uma perda financeira de receita que chega a R$ 545 milhões.
“A concessionária, assim como os outros modais de transporte público do estado, depende exclusivamente da venda das passagens para dar continuidade à prestação do serviço e não conta com nenhum subsídio do governo. A SuperVia tem custos fixos para seguir com a operação e com a manutenção dos trens, das estações e da estrutura ferroviária. Além disso, tem atendido a todos os novos requisitos de higienização e operação, mantendo o serviço de todos os ramais e preservando os empregos de seus colaboradores”, diz comunicado da concessionária.
No ano passado, trens e metrôs bateram recorde negativo de passageiros transportados no país, por conta da pandemia da Covid-19.
De cerca de 11 milhões de passageiros transportados por dia útil em 2019, o total recuou para 5,8 milhões no ano passado, segundo relatório anual da ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos).
A queda de 46,7% na quantidade de passageiros que utilizaram os sistemas em 2020 foi a maior redução já registrada no país. Se for considerado só o período de restrições devido à pandemia, de março a dezembro, o desempenho chega a 55,9% de retração em relação ao mesmo intervalo do ano anterior.
A maior queda no fluxo em trens e metrôs durante a pandemia foi registrada justamente no Rio de Janeiro, onde foram transportados 252,6 milhões de passageiros entre março e dezembro, redução de 57% em relação ao ano anterior.
Segundo a ANPTrilhos, o setor chegou a registrar crescimento de 8% no fim do ano, mas o avanço da pandemia fez com que 2021 iniciasse com redução de 4% na demanda e a curva está estagnada de forma negativa desde então, sem sinais de que vá melhorar nos próximos meses.
Já a SuperVia diz que a expectativa inicial era de que a recuperação completa do fluxo de clientes ocorresse no segundo semestre deste ano, mas a crise econômica do país e o aprofundamento da crise no Rio alteraram a previsão de retomada, agora esperada somente para 2023.
Por conta disso, o setor de transporte ferroviário de passageiros esperava que um pacote de auxílio de R$ 4 bilhões aos sistemas de transporte público fosse sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e resultasse em ao menos cerca de R$ 140 milhões às concessionárias que atuam no país, mas a proposta foi vetada.
Além da perda de receita, os trens do Rio têm sido alvo de furtos de cabos, trocas de tiros entre grupos rivais, morte e até mesmo de baile funk dentro de um vagão no auge da pandemia.
Em março, um vídeo circulou na internet mostrando uma multidão aglomerada –sem máscaras, alguns com cervejas na mão– num vagão da SuperVia. A festa teria coincidido com o dia em que o Brasil registrou 2.815 mortes causadas pela Covid-19.
Em 4 de abril, uma mulher de 26 anos morreu após ser baleada num assalto no interior de um trem na zona norte e, só no primeiro trimestre do ano, foram registrados ao menos cinco casos de tiroteios no entorno das linhas férreas, que prejudicaram a operação do sistema por 11 horas e 18 minutos.
Sobre o funk dentro do trem, a SuperVia informou que “repudia o comportamento registrado no vídeo, que mostra a prática de atos proibidos por lei, especialmente neste momento delicado de pandemia”.
“Incluindo pessoas sem máscaras, ouvindo música alta, fumando e consumindo bebidas alcoólicas, o que pode causar transtornos e riscos aos demais passageiros”, diz nota da empresa.