De olho no agro, transporte ferroviário no corredor centro-norte quase dobra

Impulsionado pelo agronegócio, o transporte ferroviário de cargas no corredor centro-norte, que percorre trilhos dos estados do Maranhão e Tocantins, cresceu 89,5% nos últimos cinco anos.

O corredor teve movimentação de 41,7 milhões de toneladas de cargas desde 2016, que rodaram o trecho da ferrovia Norte-Sul administrado pela concessionária VLI e a Estrada de Ferro Carajás.

Desse montante, 10,6 milhões de toneladas circularam apenas no ano passado, o que representa um crescimento de 6,7% em comparação com o ano anterior, de acordo com a VLI.

A ferrovia Norte-Sul tem as operações divididas entre VLI e Rumo. A primeira administra o trecho entre Porto Nacional (TO) e Açailândia (MA), de onde há conexão com a Estrada de Ferro Carajás, operada pela Vale, até o porto de Itaqui (MA).

Já a Rumo venceu em 2019 leilão do trecho entre Porto Nacional e Estrela D’Oeste, no interior paulista. A primeira das três partes em que a concessão foi dividida foi inaugurada em março, ligando São Simão (GO) a Estrela D’Oeste.

O trecho, de 172 quilômetros, operava em fase de testes desde fevereiro e foi o primeiro da Malha Central da Rumo, após investimento de R$ 711 milhões —no terminal, em pontes e em dezenas de quilômetros de trilhos.

Já no chamado tramo norte da ferrovia, que está sob responsabilidade da VLI, foram investidos R$ 997,6 milhões nos cinco anos, para manutenção e modernização dos ativos e projetos ambientais, de saúde e de segurança.

São utilizados no trecho mais de 3.000 vagões, o quádruplo do que existia em 2015.

O corredor é visto pela concessionária como o “futuro da logística nacional” e por meio do qual o agronegócio alcançará novo patamar no transporte de milho, soja e farelo de soja. Para integrar a ferrovia com as rodovias, foram implantados terminais em Porto Nacional e Palmeirante (Tocantins) e um terminal portuário em São Luís.

O modal ferroviário é responsável por transportar 15% das cargas no Brasil, índice muito inferior aos de países como EUA (43%) e Rússia (81%), conforme dados da ANTF (Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários).

Além do trecho da Norte-Sul, a VLI engloba a FCA (Ferrovia Centro-Atlântica) e possui terminais intermodais e portuários em cidades como Santos e Vitória.

A Norte-Sul é uma ferrovia cuja história se arrasta desde a década de 1980. Em 13 de maio de 1987, a Folha publicou reportagem de Janio de Freitas que mostrou que a concorrência para a construção da ferrovia tinha sido uma farsa. De forma cifrada, o resultado das empresas vencedoras tinha sido publicado cinco dias antes.

Além disso, até 2017 a ferrovia já tinha consumido R$ 28 bilhões em valores corrigidos pela inflação e órgãos de controle e fiscalização estimavam que pelo menos um terço tinha sido superfaturado.

Cinco anos antes, a PF (Polícia Federal) deflagrou operação que revelou corrupção nas obras feitas pela Valec, estatal que então detinha a concessão da ferrovia.

As obras atrasaram porque houve troca de executivos e centenas de pendências com o TCU (Tribunal de Contas da União) tiveram de ser resolvidas para que o embargo às obras fosse suspenso. Contratos foram refeitos para que os sobrepreços fossem cancelados.