Indústria sofre recuo na produção de locomotivas e carros de passageiros

O ano de 2019 tinha sido muito difícil para a indústria ferroviária, que retrocedeu uma década em relação aos pedidos de locomotivas e vagões, mas 2020 parecia ser promissor. Parecia.

Se for comparado com o ano anterior, 2020 teve crescimento no total de vagões fabricados, mas também redução no número de carros de passageiros e locomotivas, e mesmo onde avançou está muito longe do patamar que a indústria nacional já conseguiu atingir, segundo levantamento da Abifer (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária).

A previsão no início do ano era a de que o país fabricasse 40 locomotivas, 2.000 vagões de carga e 131 carros de passageiros, mas nenhuma das metas foi alcançada.

Foram produzidas 29 locomotivas, 1.800 vagões e 72 carros de passageiros, segundo Vicente Abate, presidente da associação.

E a culpa não é da pandemia do novo coronavírus, mas do momento enfrentado pelo setor mesmo. “Não [foi a pandemia], porque se tivesse mais volume, faríamos. Fizemos o que foi possível”, afirmou Abate.

Depois de fechar com apenas 1.006 vagões produzidos em 2019 –pior ano desde 2002–, a meta era dobrar a produção, o que não foi possível.

Nem mesmo o crescimento de praticamente 80% no total fabricado é visto como satisfatório pelo setor. “Ainda é baixo. Se pegar a média dos últimos dez anos, tirando 2019, dá 3.400 vagões e fechamos com 1.800. Embora perto da previsão [para o ano], é baixo.”

E, diante de um mercado dominado por incertezas sobre quais investimentos sairão do papel nos próximos anos, o que esperar de 2021? Otimismo, diz ele.

A indústria projeta fabricar 2.500 vagões, número ainda abaixo da média dos últimos dez anos, mas que sinalizaria uma tendência de curva ascendente. Para isso, o setor conta essencialmente com renovações de concessões ferroviárias, licitações feitas por governos estaduais e federal e compras do exterior.

Por isso, a expectativa futura se baseia em projetos como o Trem Intercidades, ligando São Paulo à região metropolitana de Campinas, e a licitações envolvendo órgãos como a CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos).

Já em relação às locomotivas, a meta é avançar também em 2021, produzindo 61, das quais 4 destinadas à exportação.

O pior cenário na indústria envolve os carros de passageiros, ramo que em 2020 só concluiu um projeto de exportação para o Chile, com 72 unidades, e prevê apenas 43 neste ano. Desse total, 40 para serem exportados.

“Só esperamos uma recuperação no mercado [de carros de passageiros] em 2022, mas aí virá forte, com metrô e exportações projetadas para Taiwan e Romênia. As concessões das linhas 8 e 9 da CPTM, previstas para março, devem ter uma concorrência muito grande, com expectativa de 36 trens no total. No metrô, temos sinalização de que em abril deverá ser lançado o edital. Estimamos 44 trens”, disse.

A previsão de avanço na fabricação de locomotivas e vagões deverá fazer com que a ociosidade do setor, que chegou a ser de 90% em algumas plantas, caia para 75% (locomotivas) e 80% (vagões) neste ano.

De acordo com ele, apesar disso o ano de 2020 mostrou que o transporte ferroviário e a indústria são promissores. “Não foram grandes volumes, é fato, mas diante das dificuldades a indústria se portou de uma forma dignificante. Não paramos, os transportes de cargas e de passageiros são essenciais e a indústria também se tornou.”

PRODUÇÃO FERROVIÁRIA NO PAÍS

Carros de passageiros

2017: 312
2018: 312
2019: 99
2020: 72
2021*: 43

Vagões

2017: 2.878
2018: 2.566
2019: 1.006
2020: 1.800
2021*: 2.500

Locomotivas

2017: 81
2018: 64
2019: 34
2020: 29
2021*: 61

(*) previsão

Fonte: Abifer (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária)