Conheça a história da ponte ferroviária que, por pouco, escapou da destruição
Era uma vez uma ponte ferroviária histórica de 120 m de extensão que cortava um rio no interior de São Paulo e foi desmontada para ser usada em rodovias na região Norte do país.
Não, peraí. A história não acabou assim, ao menos por enquanto. Após uma recomendação do MPF (Ministério Público Federal), essa ponte metálica permanecerá no mesmo local, no rio Pardo, entre Ribeirão Preto a Jardinópolis, até que o caso seja reanalisado.
Ela, que foi construída nas últimas décadas do século 19 e integrava a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, foi fundamental para o escoamento da produção de café de cidades das regiões de Ribeirão Preto e Franca até o porto de Santos, o que alavancou o desenvolvimento econômico de uma região compreendida por ao menos 60 cidades, e tem valor histórico.
Esses foram alguns dos argumentos usados para a sua preservação, mas ela, que está inutilizada atualmente, ainda corre o risco de ser desmontada.
Um processo em curso no Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) prevê a doação da ponte ao Acre, onde partes da estrutura metálica seriam aproveitadas na construção de pontes rodoviárias naquele estado.
O governo do Acre inclusive estava, desde agosto, autorizado a tomar posse do bem, mas o MPF em Ribeirão Preto enviou pedido de paralisação do processo, que foi acatado pelo Dnit.
“Informamos que o processo de doação da ponte ao Acre está suspenso enquanto a diretoria do Dnit analisa as recomendações do MPF”, disse o órgão federal. Ou seja, a suspensão ainda não é definitiva.
O trecho no qual a ponte foi construída era chamado de Linha do Rio Grande, que partia de Ribeirão e prosseguia até Rifaina, já na divisa com Minas Gerais. Ele passava por cidades como Jardinópolis, Brodowski, Batatais, Restinga, Franca e Pedregulho e foi inaugurado em 1886, com visita de dom Pedro 2º.
Por causa dessa importância, membros do Instituto História do Trem levaram o caso ao MPF quando souberam da decisão do Dnit, já que a entidade tem projetos de preservação do patrimônio ferroviário existente em Ribeirão Preto e a ponte faz parte dos itens a serem mantidos.
Entre os projetos está a criação de um museu ferroviário e de um trem turístico, que utilizaria a ponte sobre o rio Pardo. Além disso, a ponte está em processo de tombamento municipal.
Em seu pedido, o procurador da República André Menezes argumentou que a ponte possui “enorme potencial turístico para ambos os municípios, recebendo visitantes mesmo à míngua de qualquer estrutura de visitação no entorno” e que esse potencial deve crescer com a implantação de um parque linear em Jardinópolis, que contou com doação, pelo Dnit, do leito remanescente da Companhia Mogiana em seu território.
Ainda conforme ele, a transferência da ponte para o Acre fará com que haja o “desmonte da superestrutura metálica”.
Não é a primeira vez que um patrimônio histórico corre risco de desaparecimento em Ribeirão Preto.
Uma das duas locomotivas expostas em áreas públicas quase deixou a cidade três anos atrás.
A maria-fumaça já estava sobre um caminhão para ser transportada para Salto para fazer parte do Trem Republicano, mas ações de órgãos de preservação, do MPF e da prefeitura conseguiram barrar a partida do caminhão e a locomotiva foi devolvida ao local em que está até hoje –ao lado da estação ferroviária da cidade.