Vila de Paranapiacaba, que será reaberta, vê estação abandonada ser restaurada

A vila histórica de Paranapiacaba, que será reaberta gradualmente a partir desta segunda-feira (20), deverá ter pronta até o final do ano a obra de restauração da estação ferroviária Campo Grande.

Abandonada há quase duas décadas, a estação foi inaugurada em 1889 –o prédio atual é de 1929– e pertenceu à SPR (São Paulo Railway), que surgiu em 1867 e foi pioneira no transporte ferroviário paulista.

Após deixar de transportar passageiros em 2002, a estação ficou totalmente abandonada e sofria risco de desabamento. Após o início dos trabalhos, porém, seu estado geral tem surpreendido a equipe de restauro em relação às condições encontradas.

A previsão inicial apontava perda de 90% da estação, com a manutenção somente de tijolos e alvenarias externas, segundo a arquiteta Fabiula Domingues, do escritório de arquitetura e urbanismo Contemporânea Paulista, especializado em restauração de patrimônio histórico e cultural e que coordena a obra.

“Conforme fomos conseguindo fazer toda a limpeza da estação em si, vimos que a parte estrutural da cobertura, todo o madeiramento, apresentava estado de conservação muito bom. Achávamos antes que não seria possível manter, mas com os testes de conservação vimos que só precisava de uma limpeza, lixamento e aplicação de verniz, para impedir a proliferação dos problemas”, afirmou.

Devido ao abandono, havia árvores e outros tipos de vegetação que cresceram dentro da estação, além de bolores por todas as partes.

Outra surpresa positiva foi em relação às telhas centenárias e importadas da França que ainda existiam. O imóvel foi todo destelhado e cada peça passou por limpeza manual com escova, água e sabão neutro. Todas as que foram retiradas passaram nos testes e foram suficientes para cobrir um plano do telhado.

Na revitalização do prédio, uma parte interna teve demolição de parede e os tijolos foram todos aproveitados na própria restauração. “Tudo o que podia ser recuperado foi usado novamente na própria estação.” 

Na estação, marcas da histórica SPR (São Paulo Railway) estão presentes em vários pontos (Leo Giantomasi)
Na estação, marcas da histórica SPR (São Paulo Railway) estão presentes em vários pontos (Leo Giantomasi)

O projeto da restauração teve início em janeiro e a previsão é que a obra seja entregue em novembro. Segundo ela, a proposta da restauração teve início em 2018, com um projeto cultural em que o escritório se inscreveu e obteve aprovação. Após conseguir patrocínio, foi feita uma licitação para definir a empresa que faria os trabalhos.

SEM REFERÊNCIA

Um problema na restauração surgiu com o piso, já que no imóvel não havia nenhum remanescente, para que ao menos fosse usado como referência para a produção de réplicas. A solução para a equipe foi seguir a tipologia de outras estações do gênero.

 “Quando entramos na estação não existia nenhum tipo de piso, mas vestígios de como poderia ser. Em cima deles, pegamos outras estações com o mesmo padrão arquitetônico e aí adotamos a reprodução do piso”, disse a arquiteta.

Segundo o secretário do Meio Ambiente de Santo André, Fabio Picarelli, o trabalho desenvolvido na restauração da estação é parte de um bloco de revitalizações que está sendo implementado na cidade.

“A grande dificuldade dos restauros da Vila de Paranapiacaba é por que ela é tombada nas três esferas de patrimônio histórico, pelo Iphan [federal], Condephaat [estadual] e conselho municipal. Na vila temos vários agentes envolvidos, como a MRS, a ABPF, que cuida do funicular, a prefeitura e o Dnit, todos unidos para revitalizá-la”, disse.

Parte interna da estação Campo Grande, em Paranapiacaba, que passa por restauro (Leo Giantomasi)
Parte interna da estação Campo Grande, em Paranapiacaba, que passa por restauro (Leo Giantomasi)

O Ministério Público também tem cobrado restauros e um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) foi assinado pela prefeitura, o que significa que há ações espontâneas e, também, algumas obrigações assumidas no TAC.

Além da estação, estão em andamento outras duas obras na vila, entre elas a da cabine de comando.

Para a arquiteta, o cenário bucólico de Paranapiacaba difere do encontrado em todo o estado e ela é única por ser historicamente importante e, também, por ter uma “variação climática das quatro estações no mesmo dia”.

“Paranapiacaba é uma vila de um grau de relevância arquitetônica imenso. Você não tem histórico no Brasil de vilas similares, ela é única e isso a torna algo extremamente especial. Por isso que ela é tombada, por isso que há várias ações de preservação por conta dessa referência arquitetônica e histórica”, disse.

O restauro está orçado em R$ 1,7 milhão e está sendo pago pela MRS Logística, concessionária que administra o trecho ferroviário e que depois utilizará a estação como espaço operacional.

A REABERTURA DA VILA

A Prefeitura de Santo André anunciou a reabertura da vila turística, seguindo normas e protocolos já adotados em outras regiões da cidade. A vila estava desde 18 de abril com acesso restrito somente a moradores, devido à pandemia do novo coronavírus.

O acesso à vila será permitido somente pela parte alta, seguindo bloqueada a estrada de terra que leva à parte baixa. Nela, as máscaras serão obrigatórias, além de distanciamento entre visitantes. Eventos com aglomeração estão proibidos. O Museu Castelo e a Casa Fox permanecem fechados na primeira fase de reabertura.

A Covid-19 também atrapalhou o restauro da estação Campo Grande. A previsão inicial era de que a obra fosse concluída em seis meses, conforme a arquiteta, mas o ritmo precisou ser reduzido como forma de evitar a propagação do novo coronavírus.