Incêndio destroi vagão que era alvo de associação de preservação para restauro

Construído há 67 anos, um vagão ferroviário utilizado no passado pela Estrada de Ferro Sorocabana foi destruído por um incêndio no último sábado (7).

O veículo estava estacionado nas dependências da oficina de Mairinque, em área operacional da concessionária Rumo, e era alvo da Sorocabana – Movimento de Preservação Ferroviária desde 2015, para fazer parte do acervo da associação.

O vagão foi utilizado após a concessão das ferrovias brasileiras pela Ferroban –que operou entre 1998 e 2002– para transportar suas equipes de mecânica e, depois, foi devolvido à União, via Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). A Rumo informou que, a pedido da associação, enviou ao governo federal pedido para transferência do ativo, mas não houve resposta.

Eric Mantuan, presidente da entidade, disse que a Rumo tinha levado o veículo para uma linha abandonada da oficina, com vigilância deficiente e não se movimentou com o objetivo de impedir uma “tragédia anunciada” como o incêndio, apesar de ter recebido alertas da associação.

“Pior do que jogar para uma linha abandonada, ela ignorou todos os nossos pedidos para que o veículo fosse manobrado para um pátio, e nós até iniciamos uma conversa com a operação em Mairinque para que alugássemos um trator, custeado por nós, para que pudéssemos movimentar esse carro para um local vigiado. Ela [concessionária] assumiu o risco. Depois de um ano de avisos, acabou em cinzas, infelizmente”, afirmou.

Considerado luxuoso, o vagão chegou a ter camas, cabines, cozinha, lustres e lavatórios intactos, mas tudo foi sendo consumido pelo descaso, conforme a associação.

Mantuan afirmou que vai impetrar uma ação civil pública, em que pedirá a designação de um perito especialista em restauração para avaliar os custos necessários para recuperar o carro de passageiros.

A Rumo informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o carro de passageiros pertence ao Dnit e não é arrendado à concessionária.

Carro de passageiros antes de ser alvo de incêndio em Mairinque (Divulgação)

Conforme a empresa, o vagão estava devidamente estacionado no pátio ferroviário de Mairinque e, a pedido da associação de preservação, a empresa encaminhou ao Dnit uma solicitação para transferência do ativo do local, mas não obteve resposta. O Dnit informou que fará inspeção no vagão incendiado.

“A empresa mantém vigilantes que realizam rondas periódicas, mas é importante ressaltar que as equipes não têm poder de polícia”, diz trecho de nota da concessionária.

A empresa ainda informou que após o incêndio o Corpo de Bombeiros foi acionado para atuar no combate e que registrou boletim de ocorrência na polícia e está contribuindo com as investigações.

ACERVO

Hoje, o acervo da associação de Sorocaba é composto por 5 locomotivas (2 diesel, 2 elétricas e 1 diesel-mecânica), 10 carros de passageiros e 3 vagões de carga. Tem, ainda, convênio com a prefeitura para operar a fazer a manutenção de uma locomotiva a vapor (maria-fumaça).

Desses, estão em condições de operar hoje 2 locomotivas e 1 carro de passageiros. Os demais necessitam de restauro.