Em Conchas, estação esquecida pelo tempo simboliza abandono ferroviário

Algumas estações antigas foram tombadas por órgãos de preservação do patrimônio, seja pelos seus estilos arquitetônicos ou por sua importância cultural e econômica no período em que foi construída.

É o caso, por exemplo, do conjunto da estação ferroviária de Piraju (a 334 km de São Paulo), que pertenceu à Estrada de Ferro Sorocabana, foi inaugurado em 1908 e projetada por Ramos de Azevedo.

Ou, ainda, do complexo ferroviário de Cruzeiro (a 219 km da capital), que pertenceu à Estrada de Ferro Central do Brasil e à antiga The Minas and Rio Railway Company e que foi tombado por ser responsável pela formação de um núcleo urbano diferenciado dos demais do Vale do Paraíba.

Ambos são tombados pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo).

Não é o caso da estação ferroviária de Juquiratiba, em Conchas (a 180 km de São Paulo), que é mais recente e não tem apelo histórico ou arquitetônico. 

Embora inaugurada ainda em 1888, a construção do prédio atual data de 1952 e não apresenta características marcantes em outras estações, como sua imponência. Ao contrário.

O imóvel que atendeu a Estrada de Ferro Sorocabana recebeu ampliações depois de construído que não seguiam o modelo de construção adotado, o que o deixou com características clássicas de puxadinhos.

Em péssimo estado e ainda com trilhos, a estação era usada como moradia por quatro famílias quando o blog lá esteve e estava tomada por mato no entorno, tinha vagões e ferros retorcidos abandonados e era marcada por forte cheiro de lixo.

Uma moradora disse pagar aluguel a um dono, que não foi encontrado pela Folha. Questionada, a SPU (Secretaria de Patrimônio da União) informou que a estação estava em processo de incorporação pela União.

Na avaliação do pesquisador ferroviário Ralph Mennucci Giesbrecht, um agravante em São Paulo é que os órgãos que deveriam cuidar não quiseram fazer isso no estado. “Em Minas Gerais, há várias [estações] recuperadas pelo Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional], mas aqui não, e estações que fecharam mais recentemente, nos anos 90, como a de Conchas, acabaram ficando num limbo”, disse.

Os trilhos ainda estão em Juquiratiba, mas o único movimento de vida que se vê neles são dos cachorros e gatos que vivem no entorno e de urubus, em busca de alimentos.