Restaurado, vagão retoma transporte de passageiros no interior depois de 42 anos
Ele foi fabricado em 1912 com estrutura de madeira, matéria-prima dos vagões nas primeiras décadas das ferrovias brasileiras, e assim permaneceu até o fim dos anos 60, quando foi totalmente reformado e ganhou caixa metálica.
Mas essa estrutura foi utilizada por pouco tempo pelos passageiros da extinta Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Depois, ainda serviu como vagão de saúde, sofreu abandono, foi resgatado, recuperado e, neste sábado (19), após 42 anos sem transportar regularmente passageiros, será levado de volta aos trilhos no interior de São Paulo.
A recuperação do carro de passageiros foi feita numa oficina pertencente à ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária) na estação Carlos Gomes, em Campinas, uma das cinco que compõem a rota entre a cidade e Jaguariúna.
Embora tenha sido fabricado na década de 1910, importado da Inglaterra, a formatação atual do vagão é de 1970, quando foi refeito nas oficinas que a Paulista, em fase decadente, mantinha em Rio Claro.
A Companhia Paulista operou até o ano seguinte, quando deixou de existir para ser uma das empresas que originaram a Fepasa (Ferrovia Paulista S.A.), ao lado da Estrada de Ferro São Paulo-Minas, da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, da Estrada de Ferro Sorocabana e da Estrada de Ferro Araraquara.
A mudança de madeira para aço foi utilizada apenas até 1977, de acordo com Hélio Gazetta Filho, diretor administrativo da ABPF Campinas.
“Em 1977 muitos trens de passageiros foram suprimidos e o carro não foi mais usado e passou a ser apenas um carro de serviços”, afirmou.
MUDANÇA E ABANDONO
Com o fim do uso do vagão no transporte de passageiros –que seria praticamente dizimado nas duas décadas seguintes no país–, ele foi transformado num carro de saúde para tratamento oftalmológico, com a retirada dos assentos e a colocação de tapumes para separar os consultórios.
Funcionava nos moldes das carretas de combate ao câncer espalhadas pelo Hospital de Amor de Barretos.
“Era levado pelos trens até um determinado local, onde ficava estacionado em um desvio. Era alimentado com energia elétrica e funcionava como um postinho de saúde”, conta o diretor.
Mas o sistema não durou muito, já que a década de 90 foi de mudanças profundas no sistema ferroviário: o governo federal fez concessões das ferrovias e a Fepasa deixou de pertencer ao governo paulista e foi incorporada pela União.
Depois de ficar guardado em Rio Claro, em 2005 o carro de passageiros foi cedido à Prefeitura de Vinhedo, para ser exposto. Mas, no local, passou a sofrer depredação e perdeu janelas e instalações elétricas, além de ter se transformado em abrigo para usuários de drogas.
A ABPF obteve a cessão em 2010, quando o veículo estava sob responsabilidade do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). Ficou outros nove anos guardado na estação Carlos Gomes, até começar a ser restaurado no início do ano.
Segundo Gazetta Filho, a recuperação custou R$ 200 mil, valor obtido com a venda dos bilhetes para o transporte turístico entre as duas cidades do interior paulista.
O restauro devolveu a pintura azul com faixa creme característica da Paulista, além dos detalhes no acabamento interno do vagão.
CARGAS
O carro de passageiros não será o único a voltar aos trilhos a partir deste sábado. Um vagão de cargas, que também pertenceu originalmente à Paulista, foi cedido à associação e o objetivo é disponibilizá-lo para filmagens de época e eventos.
Fabricado há cerca de oito décadas nos EUA, estava estacionado no pátio central de Campinas até dezembro do ano passado.
A maria-fumaça opera aos sábados, domingos e feriados. Aos sábados, a partida na estação Anhumas, em Campinas, ocorre às 10h10 e o passeio dura três horas e meia. Há também o meio percurso, até a estação Tanquinho (15h). Já aos domingos e feriados, os trens partem de Campinas às 10h10 e 14h30 (percurso completo) e 16h30 (meio percurso).