Vagão centenário renasce em oficina com as cores da extinta companhia Paulista

Fabricado em 1912 e utilizado até a década de 70, um carro de passageiros da extinta Companhia Paulista de Estradas de Ferro está sendo restaurado no interior de São Paulo com o objetivo de voltar aos trilhos no mês de julho.

Originalmente, o veículo foi produzido em madeira, mas a Paulista, já em sua fase decadente, implantou um programa de modernização que resultou na retirada da madeira e no uso de aço no lugar.

A recuperação do carro de passageiros está sendo feita numa oficina na estação Carlos Gomes, em Campinas, pertencente à ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária).

A Paulista operou até 1971, quando deixou de existir para ser uma das empresas que originaram a Fepasa (Ferrovia Paulista S.A.), ao lado da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, da Estrada de Ferro Sorocabana, Estrada de Ferro Araraquara e Estrada de Ferro São Paulo-Minas.

Com a modernização, o carro passou a ser conhecido como Chumbinho, por ter um outro padrão de pintura, na cor cinza, com alguns tons azuis, como as locomotivas características da Paulista.

“Esse carro veio parar na mão da ABPF meio sem querer. Era originalmente para rodar em bitola de 1,6 metro, mas o seu comprimento, 21 metros, permite rodar em bitola métrica. É o único que sobrou, vai ficar para os passageiros como era, no mesmo estilo”, afirmou Helio Gazetta Filho, diretor administrativo da associação em Campinas.

Bitola é a distância entre a parte interna dos trilhos. Não é o primeiro vagão projetado para operar em bitola de 1,6 m e que é adaptado para ser utilizado na bitola de 1 metro. A própria ABPF tem um vagão de cargas que sofreu essa modificação.

Conforme o diretor, o “velho novo” carro de passageiros terá na parte externa as cores azul e creme, igual às locomotivas que a Paulista possuía.

Cores azul e creme, tradicionais da Paulista, serão usadas no restauro (Vanderlei Antonio Zago)

POR DENTRO

O interior do carro de passageiros era mais simples no passado. Lembra que foi alterado na decadência da Paulista? Com isso, passou a ter partes feitas em painéis semelhantes aos MDF atuais e laminados, com algum acabamento em alumínio.

“Estamos fazendo como ele era quando tinha madeira. Tirando o forro interno, o original dele era bem antigo, as laterais, cabeceiras, almofadas, tudo uma réplica do que era. Ele está seguindo outro da Paulista que temos, que é madeira. Clássico por dentro e aço por fora, com a pintura da Paulista.”

Até julho, quando a associação pretende devolvê-lo aos trilhos, será preciso reconstruir o estofamento, trocar rolamentos de rodas e fazer janelas, maleiro, colocar cortinas e fazer revisão.

Detalhe da restauração com a clássica logomarca da Companhia Paulista (Divulgação/ABPF)

A associação o recebeu em 2010 e, desde então, ele estava guardado na oficina na estação ferroviária, já que não havia condições financeiras de restaurá-lo antes.

O custo para a restauração de cada carro de passageiros, em média, fica entre R$ 300 mil e R$ 400 mil, dependendo das necessidades. É o preço estimado para outro carro resgatado pela ABPF, em dezembro.