O engenheiro polonês que virou nome de estação e de cidade por causa dos trens

Muito antes do nascimento de Candido Portinari (1903-1962), um dos maiores artistas do país, a pequena Brodowski (a 338 km de São Paulo) entrava no mapa nacional com a implantação de uma estação ferroviária.

Hoje desativada, a estação é uma das poucas que estão em bom estado de conservação no interior paulista e foi tombada pelo conselho de preservação neste ano.

Brodowski não recebe trens de passageiros desde 1977, mas isso não impediu que a estação fosse mantida como era no passado, cuja história começou no meio da década de 1880, no auge da produção cafeeira no interior paulista.

Foi justamente por causa do café que Brodowski surgiu. Já existia a linha do Rio Grande, da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, que ligava Ribeirão Preto a Franca, mas havia uma distância considerada grande entre Jardinópolis e Batatais.

Os 23 quilômetros de distância faziam os fazendeiros terem de deslocar a produção para as estações das duas cidades, o que não era uma tarefa exatamente fácil nos idos de 1880/90.

Depois de inaugurada a linha entre Jardinópolis e Batatais (1886), o fazendeiro Lúcio Eneas de Melo Fagundes fez proposta à Mogiana de doar uma área da fazenda Contenda para construir uma nova estação.

A ideia foi encampada por vizinhos de Fagundes, também produtores rurais e interessados em acelerar e facilitar o escoamento de suas produções das fazendas até o porto, e a Mogiana topou.

Com isso, a nova estação surgiu em 1892 e ficava a 9,1 quilômetros de Jardinópolis e a 14,7 de Batatais, o que facilitava o embarque da produção local.

Inspetor-geral da Mogiana, o engenheiro polonês Aleksander Brodowski foi o responsável por construir a estação.

O polonês chegou ao Brasil depois de ter conhecido na universidade, na Suíça, Antônio de Queirós Telles Filho, filho de Antônio de Queirós Teles, o conde de Parnaíba e fundador da Mogiana. Casou-se com Zenaide, filha do conde.

Vista frontal da estação de Brodowski, com painéis alusivos à ferrovia (Marcelo Toledo/Folhapress)

Em homenagem ao polonês, a estação foi batizada com o seu nome e, no entorno dela, começaram a surgir moradias, pousadas, engenho e até cervejarias –o que era muito comum já à época na vizinha Ribeirão Preto.

Com o crescimento desse povoado, em 1913 Brodowski passou a ser um município, que hoje tem 24 mil habitantes, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Até 1939, a estação se chamava Engenheiro Brodowski, mas teve a denominação alterada para simplesmente Brodowski, como a cidade.

O polonês entrou na empresa como engenheiro auxiliar, em 1880, e chegou a inspetor-geral. O casamento com Zenaide ocorreu em 1892. Morreu em 1899, aos 43 anos, de tuberculose.

A Mogiana foi encampada pelo estado e foi uma das formadoras da Fepasa (Ferrovia Paulista S.A.), em 1971. Seis anos depois deixou de receber passageiros em seus trilhos, mas por mais três anos Brodowski abrigou trens de carga. Depois, houve o abandono total da linha e os trilhos foram retirados em 1988.

PRESERVAÇÃO

Em março deste ano, o Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) aprovou o tombamento da estação ferroviária de Brodowski.

A estação, conforme o órgão de preservação, “possui inegável valor cultural” pois a partir dela surgiu a cidade e também era alvo constante de produções de Candido Portinari.

“A ferrovia figurou no imaginário do pintor e esteve presente em diversos quadros e em croquis”, diz trecho do comunicado do Condephaat sobre o tombamento.

 

“As viagens de trem foram as melhores. Olhando as árvores, as casas, os animais e os fios telegráficos, ia sonhando. As paisagens e seus habitantes, vistos dali pareciam contentes… Tudo endomingado. Apreciava o ruído do trem.” (Candido Portinari, em uma das várias citações aos trens)